Continuando minha revisão musical de 2009, apresento agora a primeira parte das principais canções, da décima à quarta posições, que me enlouqueceram de alguma forma ao longo do ano. Na última parte, o top 3.
10. "Empire State Of Mind" de
Jay-Z featuring
Alicia Keys/
"Love Lockdown" de
Kanye WestEm 2009 eu me entreguei por completo ao Rap/Hip-Hop, desde à expressão honesta e urgente de suas letras às batidas, ora repetitivas ora muito bem produzidas. Os nomes principais este ano foram
Jay-Z, com seu estupendo
Blueprint 3 [Atlantic, 2009], e
Kanye West, com as melancólicas batidas e vocais de
808s & Heartbreak [Island Def Jam, 2008].
Em
Love Lockdown West canta nos versos, distorcido por um vocoder sombrio, sobre um amor que está tomando um rumo mais obscuro e quase obsessivo, para explodir no refrão com uma batida tão excitante quanto o romântico pedido de sua letra:
"now keep your love lock down/ your love lock down!" E é de conhecimento geral o quanto Lucas se derrete por uma boa letra depressiva combinada a um batidão divino.
Já
Jay-Z se juntou a
Alicia Keys para construir uma perfeita ode à cidade mais fascinante do mundo.
Empire State Of Mind tem um momentum genial por vir numa época em que ninguém já prestava muita atenção em Nova York. Daí
Lady GaGa sai do underground novaiorquino e, em
Gossip Girl, seguimos as peripécias de jovens residentes do outro lado da "cadeia alimentar" social de Nova York, o milionário Upper East Side.
Jay-Z e Keys, porém, se abstiveram das lutas de classes e cantaram o motivo-mor e unificante de amor à selva de pedra:
"In New York, concrete jungle where dreams are made of/There's nothing you can't do/Now you're in New York/These streets will make you feel brand new/Big lights will inspire you/Let's hear it for New York", a vibe global e o sentimento de estar num lugar onde tudo pode acontecer.
09. "Burial" de
Miike SnowMiike Snow é um projeto do cantor/compositor americano
Andrew Wyatt em parceria com os gênios da Dance Music contemporânea Christian Karlsson e Pontus Winnberg, ou em outras palavras,
Bloodshy & Avant. O que me impressionou neste projeto é o fato de que os inventores de "loucuras da pista", como
Toxic e
Piece Of Me [
Britney Spears], são também capazes de construir perfeitas canções em mid- e downtempo como
Burial.
A beleza principal do homônimo álbum de estréia do projeto está em todos os elementos eletrônicos, típicos da
tour-de-force dançante que conhecemos das produções anteriores da dupla sueca, mas em tempo muito mais contemplativo e suave: cada detalhe e camada sonora chega e acontece em seu tempo, sem urgência e tranquilos, o que dá um insight interessante sobre o projeto que, apesar de formado em 2007, tomou seu tempo para chegar a obras-primas como esta faixa.
08. "Shark In The Water" de
V.V. BrownA princípio, quando ouvi seu single-debut
Crying Blood, julguei
V.V. Brown como mais uma na onda retrô popularizada por
Amy Winehouse. Mas eu ignorava a frenética excitação dos clássicos grupos Soul das décadas de 1950-60 misturada a sons de video-game.
Na época de lançamento de seu primeiro álbum,
Travelling Like The Light [Island, 2009], resolvi dar uma segunda chance à britânica de beleza exótica e me deparei com um álbum apaixonado, mas ultra agridoce. Todas as canções foram inspiradas no processo de término de um relacionamento, o que deu ao álbum de Brown uma forte luz inspirada, apesar de às vezes um tanto ingrato, mas nunca depressivo - apenas cheio de paixões.
Para o meu deleite,
Shark In The Water tem as fortes cores do Pop associadas às desconfianças e ciúmes, infundados ou não. A interpretação de Brown é raivosa, contrastando com a idílica e sonhadora sonoridade meio Reggae, mas com refrões e pontes dignos de todo bom Pop. Nos momentos de paranóia amorosa, "Shark In The Water" é daquelas que simplesmente te fazem gritar cantando. DELÍCIA!
07. "Hearts Collide" de
Little BootsLittle Boots foi uma das grandes revelações de 2009; seu álbum de estréia [
Hands - Sixsevenine, 2009], apesar de não cumprir as expectativas de muitos que acompanharam sua trajetória do YouTube ao contrato com a indústria, é um dos melhores do ano, com canções que são ótimas simplesmente por serem assumidamente Pop. E como letras introspectivas e românticas estão para o Pop assim como elétrons atraem prótons,
Hearts Collide com sua vibe de balada, mas espiritualidade dancefloor, me conquistou instantaneamente. A atmosfera eletrônica, casada com vocais épicos e uma letra ultra-romântica logo fez da canção uma favorita do ano.
06. "Lady" de
Joss StoneJoss Stone é uma Diva! E sua competência musical melhora a cada álbum, como escrevi na review de
Colour Me Free!.
Em
Lady ela lida com um dilema clássico da música Soul: tesão e dignidade. Contudo, esqueça o [suposto] cliché temático e perceba um arranjo tão orgânico que soa como se tivesse sido gravado ao vivo. A voz de Stone é real e tão forte quanto o que se espera de uma Diva do Soul estabilizada; o melhor é que não se pode imaginá-la cantando outra coisa. É emocionante simplesmente ouvir Joss elevar as notas nos pontos certos, sem exagerar como a maior parte das gritadeiras do mundo.
05. "Quicksand" de
Britney Spears featuring
Lady GaGaDigam o que quiser de
Britney Spears e sua capacidade artística, mas ao longo de seus 10 anos de carreira ela tem sob seu nome algumas das melhores faixas Pop da história, sejam elas singles ou não. Ano passado Britney esteve no meu top 3, o que pode ter influenciado na minha revisita intensa de toda a sua discografia, resdescobrindo jóias como seu terceiro álbum,
Britney [Jive, 2001].
Este ano porém ela se estabilizou na 5a posição com sua colaboração com a grande estrela Pop do ano, Lady GaGa. Esta escreveu
Quicksand para o álbum
Circus [Jive, 2008] de Spears; a faixa tornou-se apenas uma bônus para iTunes, mas deveria ter sido lançada como single. Spears imprime perfeitamente o drama inerente a qualquer faixa composta e produzida por GaGa; com uma batida que, a uma certa distânica, lembra o FunkPop carioca, o melhor mesmo desta canção é, como disse, o drama: da letra aos vocais desesperados. Então, digam o que quiser, Spears sabe entregar boas faixas Pop, mesmo que não faça parte de sua alçada a manufatura delas.
Britney's top 5:
a. Quicksand [featuring Lady GaGa]
b. Toxic
- precisa de comentários?c. Let Me Be
- protótipo de power woman com refrão de cantar junto.d. Stronger
- "MY LONELINESS AIN'T KILLING ME NO MORE!"e. Piece Of Me
- depois de Toxic essa é a música ícone de Miss Spears.04. "Who'd Have Know" de
Lily AllenLily Allen lançou o primeiro grande álbum de 2009 [na minha opinião].
It's Not Me, It's You [Regal, 2009] recebeu críticas pela escolha de Allen por um ElectroPop mais genérico, mas provavelmente tais críticos não se ligaram à personalidade que Lily é capaz de impor a suas músicas.
Mantendo-se elemental e viva nas melodias, e deliciosamente auto-depreciativa na maioria das letras, Lily Allen mostrou com este álbum que maturidade não vem necessariamente com a idade. Suas idéias são contundentes e muito bem substanciadas, como em
Everyone's At It [sobre o uso de drogas] e
The Fear [sobre o culto à celebridade], ou às vezes brutalmente honestas,
Not Fair [sobre homens perfeitos que trepam mal].
Mas foi na dulcíssima
Who'd Have Known que ela me fez derreter. No show que assisti este ano em São Paulo, este foi um dos momentos mais adoráveis, com a pirralhada adolescente ao meu redor cantando do começo ao fim, mesmo que não exatamente entendesse a sobriedade por trás do romantismo. A mim ela lembra Luan; ele não dá a mínima para Lily Allen, nem faz idéia do que diz a letra, mas é ele quem me vem à mente quando ouço.
Lily Allen também produziu alguns dos melhores video-clipes do ano, todos os singles deste álbum renderam vídeos perfeitamente produzidos e o melhor: profundos em conteúdo e estética [reparem as fotografias!], especialmente os de
22 e da faixa que estrela nesta lista.
Lily's top 5:
a. Who'd Have Known
b. 22
- Lady Cums-In-Your-Facec. Not Fair
- homens perfeitos, mas que não trepam bemd. Everyone's At It
- "de políticos crescidos a jovens adolescentes (...): todo mundo usa!"
e. Fuck You
- aos retrógrados e intolerantes de plantão