Levou-me um mês para finalmente poder escrever sobre minha experiência com Björk no Rio de Janeiro. Esse bloqueio não é novo nem fonte de uma mente preguiçosa. Todo dia quando escuto suas músicas, eu reviso o show em minha mente e sinto de novo os arrepios e suspiros que aquele fatídico dia de outubro me causou. Quem saberia que depois de tanta bully do destino, eu, um dia, ficaria 12 horas numa fila para ver o passarinho islandês?
Na verdade, eu sabia, o mês anterior havia sido gasto planejando e sonhando aquele 26 de outubro e, logo cedo de manhã, Artur [meu amigo carioca e cicerone] e eu saimos da casa de nossos amigos, na Tijuca e fomos de metrô para a Cinelândia. Lá tomamos café-da-manhã e andamos até a Marina da Glória, onde o show aconteceria. Já encontrando 7 ou 8 pessoa lá, nos posicionamos na fila, para assim atingir nosso objetivo: ficar colado à grade, bem em frente a Björk, daí ela nos ouviria gritar que faríamos sexo com ela onde ela quisesse. Gastamos tempo dividindo nossas histórias de shows, analisando Björk e imaginando se ela chegaria de bicicleta, submarino ou pedalinho.
Às 20h, estava bonitinho e quieto no meu lugar desejado - bem no meio, em frente ao microfone dela, - mas na correria da entrada me perdi de Artur e ele foi parar um metro ou dois de mim; mas eu não me mexeria dali. Como me atreveria? O show de Antony And The Johnsons começou meia hora depois e foi um tanto decepcionante. Feist havia cancelado o resto de seus shows no Brasil, por causa de labirintite, então eles puseram Antony para substituí-la no Rio, portanto o show dele no palco Tim Volta foi de 30 minutos, mais o som não estava legal e a iluminação horrível. Ao menos ele foi bem simpático em sua timidez, e cantou The Crippled And The Starfish. Antony and The Johnsons é formado por um cello, violão, guitarra, um violino, uma viola e o piano de Antony - uma banda acostumada a tocar em teatros, então amei o que ele disse em relação à arena do Tim "é bem interessante tocar num lugar como esse. É como cantar contra o oceano."
Aquela foi uma frase tão Björkiana que não me senti culpado, por ficar satisfeito que o show dele foi tão pequeno. A ansiedade de finalmente ver meu D-us ao vivo começava a estourar por meus ouvidos e boca, ao contrário da tranqüilidade que senti o dia inteiro. Enquanto os holdies arrumavam o palco, podiamos ver Mark Bell e Damian Taylor montando suas mesas eletrônicas e programadores. De repende, todas as luzes se foram e a banda feminina de sopro, Wonderbrass, veio tocando a intro, Brennið Þið Vitar, instantaneamente seguida pela maravilhosa Earth Intruders.
Como a mãe Oceania, pisquei meus olhos e ela estava em minha frente, toda linda e petite com seu vestido de embrulho de natal dourado, e testa com gliter da mesma cor. Foi incontrolável; o longo e alto grito que saiu de minha boca foi simplesmente incontrolável - lá estava ela em minha frente e eu mal conseguia acreditar. Logo depois veio Hunter com suas novas batidas metálicas e arranjo de sopros [ao invés de cordas], e percebi quando ela pegou algo no chão e escondeu sob os babados do vestido; pelo fim da canção ela simplesmente formou uma teia... não consigo descrever, vocês terão que ver por vocês mesmos [no vídeo no topo do post].
E meu orgasmo foi crescendo gradualmente quando ela cantava Pagan Poetry e Unravel [uma canção que nunca sonhei em ouvir ao vivo], Jóga, Army Of Me e I Miss You. Não conseguia parar, e quando meu tema da Marina da Gloria, Wanderlust, foi tocado, eu estava estático e de boquiaberto. E então quando veio HyperBallad - eu sabia que o fim estava próximo. Ela cantou o primeiro verso e então pôs a mão na orelha e pediu que cantássemos o resto - certamente ela notou que cantamos todas as músicas do setlist. Então, a rave começou e junto veio Pluto e eu já não era eu mesmo! Me sentia como um maníaco impulsionado por aquelas batidas industriais e eletrônicas e lasers verdes; não dava para parar de pular, e ninguém ao meu redor pararia! Quem ousava era automaticamente movimentado pela multidão!!! A banda de sopros deu um tom ainda mais assustador à canção. E ela acabou assim que começou.
Eu estava viajando em êxtase, ainda não conseguia parar de gritar! Alguns ao meu redor choravam, mas eu estava muito hypado para chorar. Todos sabíamos que ela voltaria para o bis, então todos na arena - mais de 4 mil pessoas - batemos nossos pés no chão, fazendo muito barulho pelo retorno dela. E ela logo voltou, apresentando seus companheiros de banda e tocaram a altamente esperada Declare Independence. Tenho apenas uma coisa a dizer: MORI!
Artur me encontrou depois no mesmo lugar que estive durante todo o show. Não conseguia me mexer, eu não podia deixar aquele lugar! Era como se eu tivesse um desejo desesperado de tê-la de volta! Minha garganta nem existia, minha voz morrera com meu corpo, porque eu só estava em pé por inércia. Então saímos da arena roucos, cheios de confetes Björkianos nas bolsas, 4 reais mais pobres, devido à uma garrafa d'água, mas com um enorme sentimento de satisfação.
...era assim que se sente quando um sonho se realiza.
[Musique: I Miss You - Björk]