"...who'd have known, when you flash upon my phone i no longer feel alone"

- Lily Allen

BitchyList

domingo, 6 de dezembro de 2009

Cinema-Sonhos-Sonhos-Woody Allen

Talvez eu seja muito fã de Woody Allen, mas penso que poucos ao meu redor, que convivem com essa fascinação que tenho por ele, realmente dão crédito à sua divertida visão auto-depreciativa, associada às adoráveis referências cinematográficas capazes de fabricar filmes esplêndidos. E, ego aparte, não pode ser uma coisa que só eu percebo, é só procurar variadas críticas e estudos sobre sua filmografia que, talvez, passem a dar mais crédito ao que digo.

Em Memórias [Stardust Memories, 1980], Allen faz o cineasta Sandy Bates, que é ninguém menos que um alter-ego do próprio Woody. Bates, num processo de crise de meia-idade e incrédulo em relação à relevância de seu trabalho até então, tem que passar por um final de semana no Hotel Stardust, onde uma retrospectiva de seus filmes está sendo exibida. Lá, dentre milhares de memórias filmadas felinianamente, suas relações com diferentes arquétipos de mulheres e situações de absoluto nonsense - que são tão Woody Allen quanto cinematicamente sonhadoras, - Sandy revisa sua vida e propósitos, enquanto homenageia o que é provavelmente sua real e principal inspiração: o cinema.

Alguns momentos são diabolicamente pessoais, como uma cena em que Dorrie, uma das namoradas de Sandy - interpretada pela deslumbrante Charlotte Rampling - acusa-o de paquerar com sua prima pré-adolescente. Quem conhece um pouco da vida de Woody Allen é ciente do escândalo entre ele, sua então namorada Mia Farrow e as acusações de pedofilia feitas por ela após encontrar fotos de uma de suas filhas adotivas, Soon-Yi Previn, nua dentre as coisas de Allen. Anacrônicamente pensando, quem conhece a história enxerga a cena como um preview bem irônico do que se desenrolaria na vida de Allen posteriormente.


Mas não são apenas esta e outras deliciosas memórias pessoais, injetadas (ora sutilmente ora nem tanto) no filme, que fazem dele uma jóia rara. A homenagem escancarada a Fellini 8 1/2, com sua fotografia em preto-e-branco e meta-linguagem, é a grande estrela do filme. Amantes do cinema não resistirão às belas montagens, muito menos os amantes do cinema de Allen, que perceberão seu humor ácido em cada diálogo e referência. É verdade que se for analisar friamente, nesta época Allen em diversos filme falava muito sobre as mesmas coisas e pessoas, e muitas vezes da mesma forma. Mas a irônia com que ele trata sua própria visão cria um equilíbrio adorável para suas alfinetadas.

As atuações são lindas, especialmente as femininas. Rampling, que vive Dorrie, a ex-namorada problemática de Sandy e provavelmente seu grande amor, é uma força da natureza, poderosamente linda e sensual; numa das cenas finais de sua personagem, ela dá um show numa sequência de close-ups que parecem ensaios, mas são carregados de esplendor emocional e teatralidade. Jessica Harper, como Daisy, é a representação da busca de Sandy por Dorrie em outras mulheres, enquanto a charmosérrima Marie-Christine Barrault é a mulher completamente diferente das outras e, portanto, o ideal de chance sólida e real no amor. As três, juntas no contexto do filme, incorporam a fascinação de Allen pelas mulheres de seu tempo: talentosas, sofisticadas e tão paranóicas quanto ele.

A trilha sonora também é um espetáculo com clássicos do Jazz como Moonlight Serenade, de Glenn Miller, e uma versão deliciosa de Aquarela do Brasil.

Na sequencia final, foi impossível não me sentir emocionado com a brincadeira que Allen faz sobre seu próprio trabalho, concluindo a deliciosa canção-de-amor à Sétima Arte e, por que não, à sua contribuição a ela. "Memórias" é daqueles filmes essenciais para qualquer cinéfilo.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

#NewAlbumFriday

Tirei a tarde de hoje para ouvir uma série de álbuns lançados em 2009, mas que negligenciei ao longo do ano. Alguns acabaram de vazar/ser lançados, outros eu simplesmente optei por ignorar mesmo.


- "Malice N Wonderland" de Snoop Dogg: ÓÓÓÓÓtimo Hip-Hop! Mesmo que ele não faça nada [nada mesmo!] de genial como Jay-Z e/ou Kanye West, suas canções com bases de R&B prontos pra pista são bem divertidos. Note o ótimo trocadilho do título do álbum, além da genial capa

Palavra-Chave: divertido.
Destaque: Different Languages [featuring Jazmine Sullivan], Gangsta Luv [featuring The-Dream], Special [featuring Brandy & Pharrell]
Para: quem gosta de Hip-Hop descompromissado.


- "Wait For Me" de Moby: olha, Moby é um cara que eu sempre evito opinar porque comigo é sempre love it or leave it com ele. Eu adoro algumas coisas, como Early Mornin' - de Britney Spears - e... só, que eu me lembre. Mas como ele é sempre bombado tanto como artista, quanto como produtor, eu fico na dúvida em dizer o que realmente penso. Mas, okay, baixei seu último lançamento solo e putz: BORING! A faixa-intro Division é bem bonita de forma promissora, mas ao longo do álbum tudo sua chato e linear [no mau sentido]: aqueles arranjos de orquestra misturados a uma programação eletrônica aqui/acolá e vocais de cantoras góspel - tããão anos 90! B-O-R-I-N-G!

Palavra-Chave: #MobyIsDead
Para: intelecto-chatos que dizem gostar de Pop e Electronica. Ou donos de loja de decoração que precisam de música para espantar clientes preencher espaço.


- "IRM" de Charlotte Gainsbourg: sempre achei o 5:55 indie demais pra minha paciência, tipo Camille, que todo mundo diz que é Björk, mas no fundo só é chata mesmo. Mas "IRM" é muito bom desde o começo ao fim: mantém a característica indie, mas dá para escutar sem bocejar. Sem contar que o carisma de Gainsbourg aqui é bem mais evidente, especialmente nas últimas faixas mais rockers.

Palavras-Chave: françês, indie-mas-legal
Destaques: Master's Hand, In The End, Me And Jane Doe
Para: acordar depois de uma noite de sexo selvagem e tomar café com o namorado, enquanto se prepara para a rodada matinal.


- "I Dreamed A Dream" de Susan Boyle: The Boyle é DEMAIS! Okay, não... mas sim! A voz dela é linda, apesar do hype insuportável que a mídia tem feito ao redor dela pelo fato de ela fugir do padrão de beleza da indústria. Mas bem ridículo de seus defensores a defenderem por isso. Mas enfim, polêmicas aparte, Susan Boyle tem tudo para ser a próxima Celine Dion, só falta uma música na trilha de um épico blockbuster e ganhador de mil Oscars.

Palavras-Chave: não-lucas-ela-não-tem-síndrome-de-down
Destaques: Wild Horses [ótima abertura], The End Of the World, You'll See [Madonna né benhê!]
Para: beeshas loucas pela nova Celine Dion/Barbra Streisand. Ou o presente de Natal perfeito para sua mãe.


- "For Your Entertainment" de Adam Lambert: por que todo ano tem sempre um American Idol que todo mundo ama, mas que no fundo não tem nada de especial? Okay, vamos aos pontos da minha depreciação a esse Lambert: a) essa capa é HORRÍVEL! Parece uma paródia do filme Manequim dos anos 1980; b) com tanto viado mais interessante nessa vida minha gente, please me digam o que esse cara apresenta de interessante; c) esse álbum é ruim mesmo e pronto; pseudo-Darkness, pseudo-Freddy Mercury - aliás comparar essa criatura a Freddy é uma AFRONTA MORAL! Por fim, a americanada se chocou com a performance no American Music Awards, mas eu sempre digo, no dia que Adam Lambert fizer algo parecido com isso eu penso em respeitá-lo:



Palavras-Chave: viadagem, irritante
Destaques-da-ruindade: If I Had You, Music Again, Sure Fire Winners
Para: emóides que querem ser cool.

[To Be Continued...]

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

As Músicas de 2009 - Top 3 [Finale]

Vamos direto aos 3 pontos.

03. "Sweet Dream"
de Beyoncé

Esse ano, uma das coisas que eu mais gritei disse foi: BEYONCÉ É D-US! Diva ela sempre foi, mas nos primeiros anos de sua carreira solo, sua performance imagética ainda esteve muito relacionada às Destiny's Child.

Analisando a imagem total de sua persona Sasha Fierce, cheguei a tal conclusão: lá estava esta mulher com mais duas backup-dancers, como se Destiny's Child ressurgisse das cinzas, mas [graças a Jah!] não, era só Beyoncé se auto-proclamando a Diva! A fotografia em preto e branco dos três primeiros clipes de Sasha Fierce [Singles Ladies, Diva e Ego] combinava perfeitamente com a imagem divina e espetacular que a personagem possuía.

Ao lançar os dois singles seguintes do álbum [Sweet Dream e Video Phone], Beyoncé voltou às cores, mas usadas com inteligência plástica. Sweet Dream é minha faixa favorita do álbum por sua letra romântica e dramática, mas especialmente por seu vídeo que primeiro fugiu da regra implícita de seus antecessores, trazendo cores ao mundo de Sasha Fierce, porém sóbrias e meio esfumaçadas, como num sonho.

A cena final, em que Fierce se mostra vestida numa armadura, tal como
Metrópolis, pronta para o confronto, ficou marcada em minha mente por dias. Portanto, este ano, Beyoncé se firmou como uma deusa do meu Olimpo pela criatividade imagética que ela construiu ao longo do ano. Que venha 2010 e seus shows no Brasil!

Beyoncé's top 5:
a. Sweet Dream
b. Diva - "take it to another level, no passengers on my plane"
c. Single Ladies - a coreografia mais bombada da década!
d. If I Were A Boy - quem resiste cantar/gritar junto?
e. Halo - vide d.

02. "Sexy! No No No..." de Girls Aloud


Girls Aloud foi meu grande achado do ano. Em instantes me viciei em toda sua discografia e as defendia como ótimas representantes do Pop britânico. A girl-band mais bem sucedida da história foi subestimada por mim durante muito tempo, até que de repente Out Of Control [Fascination, 2008], possuiu meu iPod e minha cabeça. Eu já nem me esforçava, logo me rendi às maravilhosas faixas compostas e produzidas por Xenomania para o grupo. Ao longo de sua carreira, era como se Girls Aloud tivesse se tornado o canal pelo qual o hype grupo britânico de produtores mostrasse sua versátil genialidade.

Mas como parte da minha defesa, as canções de Xenomania não poderiam existir sozinhas e foi justamente a personalidade do grupo que me tornou fã. Ao olhá-las, muitos não conseguem [e nem se importam] em dizer quem é quem, mas talvez seja aí que resida a beleza e longevidade de Girls Aloud. Não parece existir uma luta de egos entre elas, como obviamente existia entre as Spice Girls ou Destiny's Child, e isso para mim foi um fator de apreciação interessante.

Sexy! No No No...
foi o primeiro single do álbum Tangled Up [Fascination, 2007] e a música do grupo que mais me excitou ao longo do ano, apesar de facilmente poder dar lugar a outras jóias como Biology, Call The Shots, Sound Of The Underground e Can't Speak French. A sexualidade despojada, os refrões viciantes e, acima de tudo, as guitarras glamurosas que evocam uma aurea rocker sem deixar de ser BritPop em momento algum.

Girls Aloud's top 5*:
a. Sexy! No No No...
b. The Promise - estilizada à lá big bands dos anos 1960's é simplesmente apaixonante.
c. Rolling Back The Rivers In Time - "can't wait got to his face somewhere"
d. Biology - jóia rara do Pop, construinda em crescendo para um refrão que só explode mais de 1 minuto depois do início.
e. Can't Speak French - "I can't speak French, so I'll let the funky music do the talking now"

*É péssimo ter que escolher apenas cinco faixas. Quem conhece a discografia do grupo entende porque.

01. "Bad Romance" de Lady GaGa

Ano passado Lady GaGa despontava nesta lista na 5a posição, em um ano a mulher não só chegou ao topo de minha apreciação, como ao topo do mundo, sendo eleita já por algumas publicações - com meses de antecipação - como a Popstar do ano.

Em 2009 Lady GaGa se estabilizou como um ícone da Cultura Pop. Tudo soa exasperado - no melhor estilo da era Internet - mas, mesmo que não faça mais nada que preste daqui para frente, GaGa já realizou o bastante para se instalar no panteon do Pop. Desde figurinos extravagantes, que fariam Björk ruborizar, a performances, video-clipes e ensaios fotográficos tão artisticamente interessantes quanto [às vezes] chocantes. GaGa foi, com certeza, a artista que mais causou - porém, da melhor forma: com sua inteligência e arte, não pela vida pessoal. Há tempos as pessoas mais comentadas do ano não se encaixavam na categoria de "artistas de verdade" e, mesmo com a imprensa-marrom se degladiando cada vez mais para publicar a próxima polêmica, Lady GaGa manteve-se longe disso na maior parte do tempo.

Para mim, que já gostava de seu estilo divisor de opiniões, seu primeiro grande feito do ano foi a colaboração com Jonas Åkerlund no vídeo de Paparazzi. Os queixos de todo o mundo caíram diante da perfeição estética do vídeo, até mesmo de quem duvidava de sua genialidade artística. Posteriormente, foi anunciado o relançamento de seu debut The Fame [Interscope, 2008]; contudo, GaGa chutou a premissa oportunista das gravadoras em relançar trabalhos bem sucedidos simplesmente pelo faturamento, para lançar um novo álbum, infinitamente melhor que o antecessor, em diversos aspectos, tanto musicais quanto imagéticos.

Em The Fame Monster [Interscope, 2009], Lady GaGa subverte a temática celebrada em sua estréia [a fama], tomando uma direção mais sombria e reflexiva, chutando a vaidade e o hedonismo cocainados do anterior. Como se não bastasse, ela se supera e produz [desta vez com Francis Laurence] um dos melhores clipes da história e, sem dúvidas, o melhor da década: Bad Romance.

Numa letra genuinamente Pop, com refrões mais-que-grudentos [minha tia de 200 anos - não sei a idade dela - vive cantando oh oh oh oh oh oh...], GaGa fala do amor carnal sem inibições e com um romantismo delicioso; demorei um tempo para lembrar que, em inglês, "bad romance" não se traduz apenas como "romance ruim", mas figurativamente também, "louco romance." Além do mais, ninguém mais até hoje inventou melhores nomes para pênis do que GaGa.

O resto de "Monster" não fica atrás. Nenhuma das nove faixas soa como meros recheios, todas com potenciais imagéticos inspiradores. Alejandro, que à primeira audição soa breguíssima mas revela uma qualidade ABBA impossível de recusar, tem GaGa falando com um sotaque italiano que me remete a ninguém menos que Madonna e sua famosa camiseta Italians Do It Better, mesmo que Alejandro seja hispânico [neste caso, o ser humano italiano em questão é a própria GaGa].

A cada audição, Monster demonstra maior potencial artístico. Qualquer pessoa com o mínimo de sensibilidade artística, e apreciador do Pop, pode imaginar milhares de possibilidades para cada faixa do álbum. Isso para um fã [eu mesmo!] causa uma excitante expectativa pelo o que Lady GaGa guarda em suas excêntricas mangas para o ano seguinte.

Lady GaGa's top 5:
a. Bad Romance
b. Paparazzi
c. Alejandro - *think Fellini* "I know that we are young and I know that you may love me, but I just can't be with you like this anymore......... Alejandro!"
d. Telephone [featuring Beyoncé] - "I LEFT MY HEAD AND LEFT MY HEART ON THE DANCEFLOOR!"
e. Speechless - o estilo romântico e dramático que só Lady GaGa é capaz de fazer atualmente.