Por todos os meus 22 anos eu só estive presente em dois casamentos: o dos meus pais - eu deveria ter alguns pares de meses intra-ulterinos - e o de um dos irmãos de minha mãe [nem lembro minha idade na época]. Mas casamentos sempre estiveram presentes em minha vida imaginária, literária, cinemática e especialmente nos finais de novela.
Acabei de rever O Casamento de Rachel, filme pelo qual Anne Hathaway foi indicada ao Oscar este ano. Uma das mais intensas experiências cinematográficas que já tive, mesmo pela segunda vez. Jenny Lumet [roteirista] e Jonathan Demme fizeram um filme no qual trataram de amor e dor em formas tão sublimes e honestas que chegaram a ser desconfortáveis. Para mim, este approach trouxe à tona uma série de sentimentos e desejos tão secretos que eu mal sabia que os tinha.
Kym [Hathaway] sai da rehab para o casamento de sua irmã Rachel [Rosemarie DeWitt, que brilha em cada cena, tornando-se linda especialmente nos momentos mais tensos]. O casamento dela foi uma reunião inspiradora de amigos e familiares artistas, no qual a música se fazia presente [dando ao filme um feeling de musical] ao mesmo tempo que todos os dramas familiares apareciam de forma tão chocante quanto inevitável.
Apesar da minha pose sisuda e às vezes indiferente a certos idealismos, sou uma pessoa que compartilha sonhos comuns à maioria da população romântica do planeta. Minha acupunturista diz que sou alguém fortíssimo, mas capaz de se desfazer se forçado no ponto exato. Por mais ingênuo que soe para alguém como eu, vivente de uma sociedade preconceituosa e às vezes bem cruel, quero não apenas casar, como ter uma cerimônia na qual meus amigos e família estejam presentes compartilhando o momento.
Porém, nunca havia imaginado como seria ou como gostaria que fosse antes de ver este filme. A presença de todo o drama, dor, mas tudo sempre atrelado a um amor que unia a todos ali [e uma vontade de manter aquele amor o tempo todo]... isso no filme me fez constatar que eu nunca poderei imaginar como será quando chegar minha vez, o que eu falaria na hora de fazer meus votos, como me sentiria. São sentimentos e projeções que a arte nos permite, mas, quando belamente executadas, como no caso deste filme, apenas nos fazem constatar que nunca saberemos até que o momento real chegue.
Ainda assim, os desejos existem e às vezes eles vêm pungentes e tão reais quanto um filme.
[Musique: Este filme é tão cheio de uma música tão linda e presente, que eu nunca consigo substituí-la por um bom tempo após assistí-lo.]