De repente eu estava numa cidade meio medieval, ou mais antiga que isso; mas nada de clipes de bandas de goth metal: apesar de estar usando uma charrete como transporte, os tempos eram modernos. Na verdade muitos carros passavam por mim e parecia haver uma comoção na cidade, que depois descobri ter sido um incêndio num casarão antigo.
Num dado momento caí da carroça e minhas coisas [mais especificamente os óculos de coração de Madonna que comprei no Rio] ficaram lá e o carroceiro disparou loucamente pelas ruas. Enquanto eu corria atrás dele desesperadamente me deparei com o local do incêndio e ao lado dele havia uma campo de futebol, desses de terra batida típicos de cidades de interior.
No mesmo instante abstraí do que estava fazendo e me direcionei ao campo. Várias pessoas, jovens, pareciam celebrar alguma coisa com futebol, correrias, conversas e risadas altas. Talvez celebrassem o incêndio; me senti atraído àquele lugar... não sei se consigo descrever com exatidão, mas era como se eu mesmo estivesse lá naquele campo e, desta forma, eu precisasse me reencontrar.
Instantaneamente eu já estava lá e no meio da multidão que me aparecia meio anuviada, não conseguia ver ou perceber todos os rostos com firmeza. Contudo, um rosto familiar abriu a multidão cinematicamente: Alexandre!
Engraçado, Alexandre é a única pessoa da época de escola que eu não faço idéia de como está hoje; e de todos os desaparecidos do colegial, ele é o único que tenho vontade ver. Ele era o garoto mais lindo da sala, além de muito engraçado e sacana rs; daquele tipo que te tira do sério, especialmente quando estava de bullying. E lá estava ele, num lugar ultra inusitado num momento imaterial.
Seu sorriso, que era o mesmo de anos atrás, veio até mim numa velocidade surreal: eu o via a poucos centímetros de mim, porém ele ainda caminhava em minha direção.
"Lucas, gostoso!!"
Aquele cumprimento me afastou dele. Alexandre era o tipo de pessoa que você pouco sabia identificar o nível de sarcasmo do tom e ao ouvir aquelas palavras entrei em paranóia: ERA UM SONHO!! Caralho e agora? Contudo, a decisão de acordar era minha e certamente eu não estava nem um pouco afim de gritar "acorda Alice!"
Ele já veio me abraçando e tocando descaradamente, me beijando no rosto. Eu olhava ao redor e percebia que não tinha mais ninguém por perto - mas as pessoas estavam lá. Era estranho e desconfortável, eu me sentia atraído a ele porém aquilo era muito bizarro e surreal. Quando consegui me desvencilhar do abraço dele passei a perguntar o que se pergunta quando reencontramos o passado. Mas ele me respondia com aquela expressão sedutora e eu não registrava nada que ele dizia - foi quando joguei tudo pro ar e o agarrei num beijo hollywoodiano.
Sentia nossos corpos mesclados naquele momento, mas as pessoas reapareciam à nossa volta; ninguém prestando atenção em nós, cada um na(s) sua(s). Meu fôlego se esvaía em direção a ele, tudo era sublime, mágico e ele me beijava com afinco e saudade; mas quando nos separamos, ele com o mesmo sorriso charmoso de sempre tocou o ombro de um garoto que estava por perto dizendo: "este é meu namorado..."
"ACORDA ALICE!"
Me recusei a continuar sonhando.
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Conscientemente estou numa fase abstraída romantica e sexualmente; cansei de pensar, sofrer, perder energia e tempo com homens e romances potenciais. Enquanto eu continuo aberto a tudo na vida, prefiro me ligar a sentimentos de possibilidade de outra natureza, como no trabalho. Mas quando a gente dorme e o inconsciente toma conta blablabla... essas coisas acontecem. Não que quando esteja acordado eu fique a me enganar assumindo uma postura fake de abstração - eu realmente estou on the loose. Mas este aspecto da vida existe em mim... e às vezes it comes to bite my ass.
[Musique: Echo - Cyndi Lauper]