*Talvez haja spoilers*
Na melhor cena do filme, Vanessa [Jennifer Garner] encontra Juno [Ellen Page] no shopping. Ela pede para tocar sua barriga. O que segue é um diálogo solitário que não se compara a nada mais no filme. Este momento cerca o "sentimento global" que o filme tenta dar à sua heroína; um certo limbo, onde suas decisões começam a realmente importar e o quão apavorante e, ainda assim, mágico tudo se tornou. [Movies Kick Ass]
- A personagem-título:
O que se seguiu foi toda uma discussão sobre as falhas do filme. Beleza, você pode dizer que somos bitches negativas, mas se você quer ler adorações cegas sobre Juno, é só googar o filme.
Ambos achamos Juno um filme tremendamente fofo, com personagens estranhos e charmosos, e maravilhosas performances. Mas possui uma irresponsabilidade e algumas irrealidades que são meio bizarros. Eu disse:
Também é minha cena favorita: a que ficou presa em minha mente por séculos e eu concordo completamente com a nota que você deu [3 de 4], porque o filme é mega lindo e engraçado, mas meio irresponsável. Quero dizer, beleza, é o filme de Junoe talvez foi a intenção de Cody fazê-lo assim. Mas como Juno se move pela história, como se fosse cool demais [é cool por ter engravidado, é cool por querer abortar, é cool por decidir mantê-lo etc]… e como todo mundo parece apoiar toda sua irracionalidade e prepotência…
Ao qual the ho respondeu:
Eu sei! Exceto Vanessa e a madrasta [Allison Janney].
A conclusão é que o roteiro de Diablo Cody venera o comportamento inconseqüente de Juno na maior parte do tempo.
- Sobre realidade:
Claro que estamos cagando pra realidade nos filmes, mas no fim do dia, quando você segue com sua vida, é o "nível de abstração" que você tira dele [ou de qualquer outra forma de arte] que diz o quão importante ele é pra você ou não. Por nível de abstração digo: o quanto o filme gruda em sua cabeça; como the ho disse: "porque eles duram em sua mente", quando eu disse que o casal Loring eram os únicos personagens perto da realidade.
The ho vai mais a fundo em sua crítica, dizendo:
Surpreendentemente esse não é um drama de família pesado, mas uma comédia fofa, indie e "olha como sou estranha", que usa seu gênero para ignorar repercussões mais profundas (que ninguém se importa com a quantidade de DSTs que Juno poderia ter pego é meio perturbante). [MKA]
Eu acrescentaria aborto a essas repercussões. O filme escolhe evitar a discussão; até aí tudo bem. Mas isso reflete em como Hollywood ainda lida com o assunto, como li uma vez num blog do Guardian.
Você já encontrou algum pai que tratasse a gravidez da filha adolescente com tamanho descuido e sarcasmo como o pai de Juno [J.K. Simmons]? Ou um garoto tão idiota que não quereria participar de qualquer decisão sobre o futuro de sua cria [Michael Cera]? Sobram os Lorings e a madrasta de Juno como as únicas pessoas com quem vocês esbarraria na vida real.
Sobre Mark Loring [Jason Bateman] the ho diz:
Mark brilha com os sonhos de ser rock star que, ele acha, que sua esposa o impediu de realizar, enquanto ela se torna inconsciente aos sentimentos dele, porque, para ela, eles já teriam se tornado um nesse momento. O sorriso vazio de Bateman captura a alegria de sonhos perdidos há tempos, combinada ao egoísmo de se recusar a crescer. [MKA]
Tive uma pequena discussão com Andres porque ele disse que Vanessa tinha TOC e Mark era o cara mais legal da vida; [eu disse: discordo plenamente.] (...) Eu também, mas isso mostra como o filme só funciona efetivamente com eles. D-us sabe que eu não brigaria de jeito nenhum sobre os tic tacs laranjas.
Fui adiante dizendo que é quando o filme tenta nos fazer odiar Vanessa por não ser excêntrica como os outros, que ele começa a falhar:
O que acho é que Vanessa era um tanto obsessiva. Ela queria (tanto) ter aquele bebê, que às vezes parecia que ela mal sabia porquê; é aí também onde acho que o roteiro de Cody começa a falhar. Senti que quando a relação de Juno e Mark começa a desenvolver, parece que o filme está tentando nos fazer odiar Vanessa por parecer desesperada. Contudo, o filme é de JUNO, talvez era para ser assim; porém novamente, aposto que muitas pessoas não gostaram de Vanessa pelo fim do filme (porque) pensaram que ela era muito fria.
E para um filme que se gaba por ser tão indie e excêntrico, julgamento à diferença deveria ser a última coisa a ser endorsada. Isso leva ao pensamento de que a maioria dessas comédias adoráveis, com toda sua linguagem alternativa e roteiros pop-culturais são os mais conservadores.
- Sobre o Oscar, Ellen Page e Roger Ebert.
The ho: Nós soamos como Ebert e [Richard] Roeper no programa deles; exceto que Ebert se masturba por Juno, mas whatever, acho que Page vai ganhar.Moi: Eu não e espero que não.The ho: Bem, se tenho que te lembrar, Ebert cria um ganhador do Oscar a cada ano. Geralmente é aquele que a gente nunca escolheria, mas ele é bem poderoso assim.The ho: Elas também estavam para Sissy Spacek em 2001. Até Ebert começar a fazer campanha ferrenha para A Última Ceia.
Em simples e curta conclusão: não escolheriamos Juno como melhor filme de 2007, nem Page como a melhor atriz. Mesmo se amamos ambos.
*Oscareiro: já que fevereiro é o mês do meu inferno astral, nomeamo-nos oscareiro, pra eu não pensar tanto nele.
[Song: It's Cool To Love Your Family - Feist]