[Mima Stilwell]
Às vezes eu penso que sou gay por gostar tanto de mulheres. É engraçado pensar que todo verdadeiro amante das mulheres, gosta tanto delas que é incapaz de fazer sexo com elas. Talvez assistir a muitos filmes de Almodovar ajude a internalizar essa idéia.
Mas, essas divagações inúteis são apenas para chegar ao mote principal deste post: conforme chega o fim do ano e revisito meu
last.fm, pra lembrar que tipo de música bombou meu planeta, reparo que mais uma vez a minha lista será recheada de novas divas. Melhor ainda, divas que, antes de mais nada, reinventam. Nessa primeira parte estarão listadas as mulheres que despontaram na indústria mundial esse ano, ou que pelo menos se fizeram luminosas para mim de janeiro pra cá.
Algumas das cantoras listadas aqui acabaram de lançar seus primeiros álbuns, o que me tornaria bem precipitado ao afirmá-las como divas. Mas praticamente toda semana conhecemos a nova grande diva wannabe da musica pop atual, então, me deixem em paz para agir anacronicamente quanto a essas mulheres.
Menção honrosa:
Kate BushObviamente Bush não é novidade alguma para ninguém, apesar de já estar sem álbum novo desde 2005. E mesmo sabendo de sua existência desde o advento The Puppini Sisters em minha vida, somente este ano vim conhecer a fundo o trabalho da primadonna do Pop Bizarro Alternativo, que por anos tem sido inspirações para gente como Björk. Seu mais recente álbum Aerial é um divino trabalho de arte e é essencial para quem gosta de música profunda e perfeitamente produzida. Além dele, claro, deve-se prestar atenção ao seu debut The Kick Inside e ao maravilhoso Hounds Of Love.
10. Mima Stilwell [Kish Mauve]
Mima ainda é um mistério para mim. Tudo que sei é que ela era cantora folk e em 2005, numa apresentação em algum lugar londrino, conheceu Jim Scott e desde então eles são o duo de electropop Kish Mauve. Assim como a maioria dos artistas do gênero, eles começaram a bombar na cena underground, até que alguém do mainstream resolveu se meter com eles. Desta vez foi Kylie Minogue, que em 2007 lançou um cover de 2 Hearts, da dupla, como primeiro single de seu álbum X. Agora Kish é um quarteto e estão produzindo seu primeiro álbum. Mima está aqui simplesmente por isto:
9. Céu
Alguns jornalistas e pseudo-cults brasileiros costumam dizer que a MPB passa por um processo de marasmo e que não há mais grandes divas como Bethânia ou Elis. Mas tentar encontrar a nova Maria Bethânia é uma tarefa tão estúpida e ridícula quanto encontrar a nova Madonna. [Me sinto confortável em fazer certas analogias porque pra mim todas elas são D-us.] Mas quem conhece Céu sabe que a MPB está aí firme e forte se reinventando; com sua deliciosa voz rasgada e estilo que mistura a música negra brasileira com elementos de reggae e scratches eletrônicos, Céu foi uma das rainhas dos pôres-do-sol conquistenses deste ano.
/fikdik: Lenda, Concrete Jungle, Contados e [especialmente] Lamento.
8. Duffy/Adele
O interessante dessas duas é que as descobri lendo um artigo sobre "as novas Amy Winehouses". De cara já fui achando tudo muito imbecil, pois Winehouse apesar das evidências, continua viva e produzindo. Tenho minhas ressalvas quanto à atual primeira dama do Soul britânico, mas a curiosidade me levou às galesas Duffy e Adele que, não só me conquistaram, como para mim - hoje - são melhores que a própria Casadevinho.
7. Missy Elliott
Claro que eu conhecia Missy antes de 2008, especialmente no começo da década quando virei fã de Nelly Furtado; mas meu conhecimento não passava de alguns hits como Get Ur Freak On e Work It. Somente após minha recente paixão pelo Hip Hop que eu pesquisei a fundo a obra e carreira de Missy e vi que por trás da divertida rapper está uma mulher que quebrou padrões machistas do Hip Hop com suas letras liberalistas e batidas psicodélicas [a maioria composta em parceria com Timbaland].
6. Santogold/Ladyhawke/Lykke Li
Santi White é da Philadelphia, Phillipa "Pip" Brown é da Nova Zelândia e Li Lykke Timotej Zachrisson é da Suécia. Apesar de serem de lugares tão diferentes e distantes um do outro, as três se encontram como os novos nomes do ElectroPop mundial. Com influências também diversas as três têm empurrado os limites do gênero com álbuns [Santogold, Ladyhawke e Youth Novels, respectivamente] criticamente aclamados por seus experimentalismos, ousadia e rigor artístisco.
Com vozes marcantes e arranjos enlouquecedores, as três são tendência por transitarem sem esforços entre o underground e o mainstream. Absolutamente não convencionais, suas canções são capazes de fazer você se acabar na pista, ou servem como trilha sonora para tarefas diárias como caminhar até o ponto de ônibus.
[Lykke Li] [Ladyhawke]
A voz de Esthero é daquelas que "acariciam ao mesmo tempo que perfuram". Tendo tornado-se meu vício durante o começo da minha empreitada Hip Hop, ela me cativou por suas geniais misturas. Seu segundo riquíssimo álbum, Wikked Lil' Grrrls [2005], tem canções que misturam Hip Hop, Electronica, Jazz, Latin Music e Trip Hop. A faixa título tem a molier rapeando uma letra super explícita sobre maneaters, só que com inúmeras vozes e tons diferentes. É como se a música fosse um diálogo entre ela e suas várias personas.
4. Estelle
Com dois álbuns geniais Estelle subiu ao topo das paradas britânicas com o single American Boy, em parceria com o almighty do rap americano Kanye West. Com uma voz deliciosa Estelle fez reacender em mim a chama da Black Music atual, que me era referencial com outras divas como, Alicia Keys. As canções de seu hypado segundo álbum, Shine [2008], têm influências do Soul tradicional, mas com modernas batidas R&B e Hip Hop, além de alguns elementos de reggae.
Estelle é uma ótima dica para quem não conhece e/ou tem preconceito quanto ao Hip Hop.
3. Róisín Murphy
Ícone fashion, voz poderosa e uma competência que ultrapassa a imagem de pop diva loira. Murphy já era famosa com Moloko, um duo de electronica que tinha com - seu então namorado - Mark Brydon. A banda, que foi pioneira na transformação da música eletrônica em algo orgânico e "ao vivo", acabou em 2004 com o fim do relacionamento dos dois, mas Murphy continuou como grande nome do gênero. Seu primeiro álbum solo, Ruby Blue [2004], é uma odisséia pop que mistura Jazz e Electronica tão perfeitamente que os gêneros soam como irmãos. Abusando de arranjos de metais, o álbum possui uma vibe faux-retro, como se fosse achado de um baú escondido no sótão, mas recheado de loucurinhas modernas. Canções como Ramalama e Sow Into You funcionam perfeitamente em pistas alternativas, que não têm medo de dançar com qualquer coisa.
Já seu segundo álbum, Overpowered [2006], foi produzido como um álbum de mainstream Pop: quando todos os colaboradores trabalham para fazer canções com potencial de serem singles. Overpowered é uma festa deliciosa de Dance e Electronica, lembrando alguns dos melhores momentos do Moloko. O que faz dele superior é sua forte unidade estética. Murphy, que nunca tivera uma imagem convencional, parece se render a padrões do estilo, mas, como uma das poucas artistas capazes disto, suas músicas têm cor, cheiro, sabor e especialmente ótimo gosto para haute couture.
2. Katie White [The Ting Tings]
O que fez de Katie White uma diva para mim não foi [apenas] sua voz ou música, mas [principalmente] sua imagem. Eu tenho uma queda por garotas britânicas com maravilhoso senso de moda e expressão blasé. A aura poser do The Ting Tings me excita e White é a sua personificação; em momento algum ela parece afetada por seu hype e é justamente por renegar o título de diva que ela se torna evidente.
Até mesmo em sua maneira de cantar e se apresentar White é muito pouco deslumbrada com sua posição: ela canta do seu jeito, arriscando com falsetes de gosto duvidoso [típico das grandes bandas de electroclash] e sempre se jogando, batendo cabelos e pés como se tudo não passasse de uma brincadeira.
Mas reflita, White e Jules DeMartino [seu melhor amigo e único companheiro de banda], são os faz-tudo do The Ting Tings.
/fikdik: That's Not My Name, We Walk, Shut Up And Let Me Go.
1. Yelle
Ao ouvi-la pela primeira vez meu pai perguntou se ela era a Tati Quebra Barraco francesa. rs
E o pior é que há uma pequena intersseção, porém Yelle é bem mais glamourosa e suas músicas são bem melhor produzidas.
Misturando rap e electropop, Yelle, desde que lançou Je Veux Te Voir ano passado, vem bombando nas pistas indies, ainda reminiscentes da recentemente extinta New Rave. A Cause Des Garçons e outras canções como Dans Ta Vraie Vie são ultra divertidas com letras bem explícitas [aí sua característica comum com Tati], ou às vezes simplesmente nonsense.
Julie Budet [seu nome original], feminilizou a expressão britânica YEL ["You enjoy life"] e virou Yelle; e é justamente nessa ousadia em reinventar a música pop e eletrônica francesa e por ter um estilo alternativo de se comportar e vestir que está a genialidade dela. Suas cores são vivas e refletem em sua música - é praticamente impossível não imaginar cores ao ouvir seu álbum Pop-Up.