Geralmente conto aqui os sonhos como realidade. Neste caso, porém, o desejo de este não sê-lo é forte. Não apenas porque fora um pesadelo, mas porque algumas das coisas sonhadas são meio difíceis admitir fazerem parte da minha paranóia-nossa-de-cada-dia. O interessante é que ele foi um pesadelo típico, daqueles de acordar no meio da noite exasperado.
Como não blogo diretamente os acontecimentos da minha vida há séculos, apenas com pedaços de horóscopos e sintonias do dia-a-dia, nem adianta explicar todas as personagens do sonho, mas basicamente my big-time crush me dá a egípcia eterna para ficar com o namorado. Desde que a queda voltou, essa é uma realidade, afinal eu continuo solteiro e ele continua namorando; mas isso tem sido bem tranquilo em mim, porque cada coisa tem seu tempo e eu acredito na possibilidade disso.
Mas enquanto eu vivo com o constante fantasma da rejeição, ele se instala nas esquinas mais longínquas da minha cabeça, ou seja: na hora de dormir all hell breaks loose e eu chego a visitar alguns medos que, apesar de nas horas de consciência não serem tão fortes, eles existem apesar de minhas defesas os afastarem - mas e quando eu durmo?
Bem clichêzinho, eu me encontro numa área sombria; pouco depois percebo que era na verdade uma arena onde acontecia o show de um cara que cantava covers acústicos de Kylie Minogue. A antítese já se instala: Minogue é paraíso para mim, mas desde o princípio o clima era tenso e obscuro - eu já esperava um pesadelo.
The crush permanecia com o namorado e o outro aqui lançava tantos olhares para ele quantos ele ignorava. O ambiente se tornava mais escuro enquanto minhas angústias cresciam. Nem mesmo In My Arms amenizava o clima, aliás ela só piorava pois minha vontade de estar perto dele atinge as alturas com essa música.
Acordei! Olhei ao meu redor e ainda era escuro. Em poucos minutos minha consciência processou toda a tensão do sonho, meu supracitado fantasma que é parte real e parte não [porque sei de coisas que relaxam] se fazia presente. Não se pode enganar Mr. Ego e por mais que eu vá à milha extra para manter a chama, ele chuta e grita buscando atenção. Meu coração estava pela boca, mas não hesitei em voltar a dormir - algo me dizia que aquilo ainda se retorcia no meu cérebro e precisava liberação.
Ainda estávamos no mesmo local, mas agora com o fim do show e com bem menos pessoas, o lugar se tornara bem mais claustrofóbico. Por momentos éramos apenas os três numa guerra fria de olhares furiosos, ameaças, gritos e frustrações. The crush faz sua escolha e o filme corta para a casa de uma prima recém-chegada do exterior; inexplicavelmente estavam todos lá, menos o namorado, eu chego à lá Norma Desmond, frio e imponente com meu wayferer vermelho.
Eu havia perdido a guerra para meu ego que agora reagia como um déspota de coração partido. Toda a força da queda pelo garoto se transformara num ressentimento e amargor poderosos que apenas ostentava a parte mais obscura da minha personalidade. O cenário porém era claro, as cores eram suaves em sua maioria, com alguns objetos de cores tão fortes que nem a saturação da fotografia superava: meus óculos vermelhos de raiva e minha bebida chic amarela e amarga.
Agora os olhares eram inversos; the crush desarrumava uma mala (?) [sinalizando, talvez, uma vontade de permanecer apesar de sua escolha] e me observava com olhos de querela, enquanto eu exercia minha tirania ignorando-o por completo. A força do meu ressentimento o apagava pouco-a-pouco do roteiro e, ao mesmo tempo que ele sumia, a amargura abastecia um certo desespero em mostrar uma força e desprendimento que já não existiam.
"Alguém me dá uma bebida! I need a drink!", eu gritava antes de virar meu copo de uísque e eu abrir os olhos tristes e cansados. 8h30, não dormi mais.
[Musique: In My Arms - Kylie Minogue]