[Toque a música enquanto lê. (Postado originalmente em Life's A Bitch.)]
E lá estava eu em meu quarto, quando a cabeça dele aparece pela porta. Foi uma grande surpresa tê-lo aqui, e disse isso a ele. Ele me lançou um sorriso brilhante que titilou as bases dos meus joelhos; estava mais lindo que nunca, com seu cabelo jogado para trás pelo lado, como numa foto dos anos 1960, ou, se você prefere ser um tanto cínico, como esses garotos Indies, tão comuns de hoje em dia. Mas não havia nada de comum nele; ele sabe mais sobre Literatura, Filosofia e Cinema de Arte que qualquer outra pessoa que eu conheça. Claro que inicialmente aquilo abalou meu ego, deixando-me desconfortável diante dele e seus inteligentíssimos amigos... mas um drink ou outros depois eu já estava mais ansioso para aprender sobre seu mundo do que compará-lo com o meu, então peguei e fui com a onda... mas talvez eu tenha ido longe demais e acabei desmaiando e vomitando minha camiseta. Na minha mente, tudo que havia na dele era que eu não passava de um bobinho, portanto minha surpresa ao ver a cabeça dele pela porta.
Ele e seu sorriso vieram em minha direção, me abraçaram e disseram que eu fazia falta. Adoro quando isso acontece: quando sentem minha falta. Sempre me dá esse frio na barriga, como o calor interno após um gole de cappuccino. Seu abraço era tão tépido quanto isso, de fora para dentro e esse bonito desejo me possuiu quando o abraço começou e manteve-se durante todo o tempo em que tive seus braços ao meu redor. Você nunca aparece, daí temos que vir até aqui, ele disse, deixando-me e sentando à beira da cama. Ele acendeu um cigarro e eu apenas o assistia. Por que ele me atrai, pensei em silêncio, enquanto observava os raios de sol refletidos sobre seu braço de pele branca, ricochetearem por todo o quarto.
Recebi seu sorriso mais uma vez e acendi um cigarro, enquanto subia na cama e deitava atrás dele; ele virou e deitou ao meu lado, nossas faces uma em frente à outra. A luz agora não era tão especial, mas eu podia ver-me refletido em suas pupilas. Sua voz contou-me as notícias da cidade que eu relutava em voltar, até que perguntei de seu ex e como estava a relação. Da última vez que conversamos, ele disse-me que estavam dando um tempo e, devo confessar, que uma faísca acendeu em mim, mas ele imediatamente disse que o amava e tinha saudades terríveis. O mesmo foi repetido, exceto pelo adjetivo dramático.
O problema de perguntar tais coisas para amigos aos quais você tem certa queda é que há o risco de ouvir um grande monólogo sobre os predicados da outra pessoa. Bingo! Ele contou-me sobre a última vez que se encontraram e apesar de meus olhos estarem fixos nos dele, minha mente havia andado milhas daquele ponto, até que ela foi abruptamente trazida de volta ao quarto, ao sentir seus lábios ansiosos tocarem os meus e sua língua penetrar minha boca. Um vulcão estourou dentro de mim, fazendo meus braços derramarem-se ao redor de seu pescoço, enquanto os dele amarravam-se à minha cintura e me puxavam para dentro dele.
Seus lindos olhos castanho estavam fechados, mas no momento em que abri os meus incrédulos, ele abriu os dele, em perfeito uníssono; e aqueles olhos brilharam dentro de mim, provocando um inevitável sorriso entre nosso beijo ardente. E lá nos deitamos, sua cabeça repousando em meu peito, como se ela, as orelhas e a mente houvessem penetrado meu seio. Minha mente romântica levantou vôo, imaginando como aquele garoto com mágica sensibilidade, abordaria um garoto como eu, e deitamos ali, até cairmos em sono.
Quando acordei, ele já não estava lá e uma sensação de vazio apoderou-se de mim... naquele momento eu sabia que nada fora real, que logo tudo desaparecia no nada. Mas ainda assim fui atrás dele; ele não podia deixar-me daquela forma, pensei; mas a verdade era que aquele momento com ele dera-me um enorme senso de possibilidade, esse insetinho que se instala em nossos corações sempre que algo sai da ordem natural.
Mais tarde o encontrei e com um abraço ele disse-me que amava o ex... deveria ter esperado isso: homens com histórico mais uma vez. E então ele disse: "mas estou com tanto medo de também me apaixonar por você, de ter qualquer fundação abalada, meu caminho linear embaralhado que me apavorei! Mas não partirei novamente... pelo menos agora..."
De repente, senti uma mão pesando meu ombro, olhei ao redor e nada vi; mas então olhei novamente e vi meu pai. Você tem alguma roupa para lavar, ele perguntou.
Estava acordado.
[Song: Cocoon - Björk]
4 comentários:
Você narra muito bem. :)
Eu adoro sonhos, pena que só consigo me lembrar de poucos. :~
Ér... você talvez tenha tenha razão.
Mas no meu caso, o mundo não muda. ^^
Esse post foi um sonho seu, uma música ou o quê? Texto lindo, bem... profundo.
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