"...who'd have known, when you flash upon my phone i no longer feel alone"

- Lily Allen

BitchyList

domingo, 29 de novembro de 2009

As Músicas de 2009 - Top 10 [Parte 2]


Continuando minha revisão musical de 2009, apresento agora a primeira parte das principais canções, da décima à quarta posições, que me enlouqueceram de alguma forma ao longo do ano. Na última parte, o top 3.

10. "Empire State Of Mind" de Jay-Z featuring Alicia Keys/"Love Lockdown" de Kanye West

Em 2009 eu me entreguei por completo ao Rap/Hip-Hop, desde à expressão honesta e urgente de suas letras às batidas, ora repetitivas ora muito bem produzidas. Os nomes principais este ano foram Jay-Z, com seu estupendo Blueprint 3 [Atlantic, 2009], e Kanye West, com as melancólicas batidas e vocais de 808s & Heartbreak [Island Def Jam, 2008].

Em Love Lockdown West canta nos versos, distorcido por um vocoder sombrio, sobre um amor que está tomando um rumo mais obscuro e quase obsessivo, para explodir no refrão com uma batida tão excitante quanto o romântico pedido de sua letra: "now keep your love lock down/ your love lock down!" E é de conhecimento geral o quanto Lucas se derrete por uma boa letra depressiva combinada a um batidão divino.

Jay-Z se juntou a Alicia Keys para construir uma perfeita ode à cidade mais fascinante do mundo. Empire State Of Mind tem um momentum genial por vir numa época em que ninguém já prestava muita atenção em Nova York. Daí Lady GaGa sai do underground novaiorquino e, em Gossip Girl, seguimos as peripécias de jovens residentes do outro lado da "cadeia alimentar" social de Nova York, o milionário Upper East Side.

Jay-Z e Keys, porém, se abstiveram das lutas de classes e cantaram o motivo-mor e unificante de amor à selva de pedra: "In New York, concrete jungle where dreams are made of/There's nothing you can't do/Now you're in New York/These streets will make you feel brand new/Big lights will inspire you/Let's hear it for New York", a vibe global e o sentimento de estar num lugar onde tudo pode acontecer.

09. "Burial" de Miike Snow

Miike Snow é um projeto do cantor/compositor americano Andrew Wyatt em parceria com os gênios da Dance Music contemporânea Christian Karlsson e Pontus Winnberg, ou em outras palavras, Bloodshy & Avant. O que me impressionou neste projeto é o fato de que os inventores de "loucuras da pista", como Toxic e Piece Of Me [Britney Spears], são também capazes de construir perfeitas canções em mid- e downtempo como Burial.

A beleza principal do homônimo álbum de estréia do projeto está em todos os elementos eletrônicos, típicos da tour-de-force dançante que conhecemos das produções anteriores da dupla sueca, mas em tempo muito mais contemplativo e suave: cada detalhe e camada sonora chega e acontece em seu tempo, sem urgência e tranquilos, o que dá um insight interessante sobre o projeto que, apesar de formado em 2007, tomou seu tempo para chegar a obras-primas como esta faixa.


08. "Shark In The Water" de V.V. Brown

A princípio, quando ouvi seu single-debut Crying Blood, julguei V.V. Brown como mais uma na onda retrô popularizada por Amy Winehouse. Mas eu ignorava a frenética excitação dos clássicos grupos Soul das décadas de 1950-60 misturada a sons de video-game.

Na época de lançamento de seu primeiro álbum, Travelling Like The Light [Island, 2009], resolvi dar uma segunda chance à britânica de beleza exótica e me deparei com um álbum apaixonado, mas ultra agridoce. Todas as canções foram inspiradas no processo de término de um relacionamento, o que deu ao álbum de Brown uma forte luz inspirada, apesar de às vezes um tanto ingrato, mas nunca depressivo - apenas cheio de paixões.

Para o meu deleite, Shark In The Water tem as fortes cores do Pop associadas às desconfianças e ciúmes, infundados ou não. A interpretação de Brown é raivosa, contrastando com a idílica e sonhadora sonoridade meio Reggae, mas com refrões e pontes dignos de todo bom Pop. Nos momentos de paranóia amorosa, "Shark In The Water" é daquelas que simplesmente te fazem gritar cantando. DELÍCIA!

07. "Hearts Collide" de Little Boots

Little Boots foi uma das grandes revelações de 2009; seu álbum de estréia [Hands - Sixsevenine, 2009], apesar de não cumprir as expectativas de muitos que acompanharam sua trajetória do YouTube ao contrato com a indústria, é um dos melhores do ano, com canções que são ótimas simplesmente por serem assumidamente Pop. E como letras introspectivas e românticas estão para o Pop assim como elétrons atraem prótons, Hearts Collide com sua vibe de balada, mas espiritualidade dancefloor, me conquistou instantaneamente. A atmosfera eletrônica, casada com vocais épicos e uma letra ultra-romântica logo fez da canção uma favorita do ano.

06. "Lady" de Joss Stone

Joss Stone é uma Diva! E sua competência musical melhora a cada álbum, como escrevi na review de Colour Me Free!.

Em Lady ela lida com um dilema clássico da música Soul: tesão e dignidade. Contudo, esqueça o [suposto] cliché temático e perceba um arranjo tão orgânico que soa como se tivesse sido gravado ao vivo. A voz de Stone é real e tão forte quanto o que se espera de uma Diva do Soul estabilizada; o melhor é que não se pode imaginá-la cantando outra coisa. É emocionante simplesmente ouvir Joss elevar as notas nos pontos certos, sem exagerar como a maior parte das gritadeiras do mundo.

05. "Quicksand" de Britney Spears featuring Lady GaGa

Digam o que quiser de Britney Spears e sua capacidade artística, mas ao longo de seus 10 anos de carreira ela tem sob seu nome algumas das melhores faixas Pop da história, sejam elas singles ou não. Ano passado Britney esteve no meu top 3, o que pode ter influenciado na minha revisita intensa de toda a sua discografia, resdescobrindo jóias como seu terceiro álbum, Britney [Jive, 2001].

Este ano porém ela se estabilizou na 5a posição com sua colaboração com a grande estrela Pop do ano, Lady GaGa. Esta escreveu Quicksand para o álbum Circus [Jive, 2008] de Spears; a faixa tornou-se apenas uma bônus para iTunes, mas deveria ter sido lançada como single. Spears imprime perfeitamente o drama inerente a qualquer faixa composta e produzida por GaGa; com uma batida que, a uma certa distânica, lembra o FunkPop carioca, o melhor mesmo desta canção é, como disse, o drama: da letra aos vocais desesperados. Então, digam o que quiser, Spears sabe entregar boas faixas Pop, mesmo que não faça parte de sua alçada a manufatura delas.

Britney's top 5:
a. Quicksand [featuring Lady GaGa]
b. Toxic - precisa de comentários?
c. Let Me Be - protótipo de power woman com refrão de cantar junto.
d. Stronger - "MY LONELINESS AIN'T KILLING ME NO MORE!"
e. Piece Of Me - depois de Toxic essa é a música ícone de Miss Spears.


04. "Who'd Have Know" de Lily Allen

Lily Allen lançou o primeiro grande álbum de 2009 [na minha opinião]. It's Not Me, It's You [Regal, 2009] recebeu críticas pela escolha de Allen por um ElectroPop mais genérico, mas provavelmente tais críticos não se ligaram à personalidade que Lily é capaz de impor a suas músicas.

Mantendo-se elemental e viva nas melodias, e deliciosamente auto-depreciativa na maioria das letras, Lily Allen mostrou com este álbum que maturidade não vem necessariamente com a idade. Suas idéias são contundentes e muito bem substanciadas, como em Everyone's At It [sobre o uso de drogas] e The Fear [sobre o culto à celebridade], ou às vezes brutalmente honestas, Not Fair [sobre homens perfeitos que trepam mal].

Mas foi na dulcíssima Who'd Have Known que ela me fez derreter. No show que assisti este ano em São Paulo, este foi um dos momentos mais adoráveis, com a pirralhada adolescente ao meu redor cantando do começo ao fim, mesmo que não exatamente entendesse a sobriedade por trás do romantismo. A mim ela lembra Luan; ele não dá a mínima para Lily Allen, nem faz idéia do que diz a letra, mas é ele quem me vem à mente quando ouço.

Lily Allen também produziu alguns dos melhores video-clipes do ano, todos os singles deste álbum renderam vídeos perfeitamente produzidos e o melhor: profundos em conteúdo e estética [reparem as fotografias!], especialmente os de 22 e da faixa que estrela nesta lista.

Lily's top 5:
a. Who'd Have Known
b. 22 - Lady Cums-In-Your-Face
c. Not Fair - homens perfeitos, mas que não trepam bem
d. Everyone's At It - "de políticos crescidos a jovens adolescentes (...): todo mundo usa!"
e. Fuck You - aos retrógrados e intolerantes de plantão





[Continua...]

sábado, 28 de novembro de 2009

As Músicas de 2009 - The Bubbling-Under [Parte 1]


Desde o ano retrasado faço exatamente um top 20 das músicas que marcaram meu ano. O Bubbling-Under consiste nas dez primeiras posições da lista, mais Menções Honrosas, canções/artistas que ferroaram em algum momento ou motivo [mas não necessariamente um período] ou que têm potencial para o ano que vem.

2009 foi um ano maravilhoso na música! No cenário Pop mundial tanta coisa e artistas incríveis aconteceram que minha maior dificuldade foi lembrar de tudo. Graças a Jah existe last.fm. Ainda assim, há muita coisa que não consta na lista oficial - apesar de sempre se dar um jeito de incluir mais gente.

Um ano super heterogêneo, algumas das figuras carimbadas do top 20 não constam este ano, ou assumem posições inferiores ao habitual. Há um presença masculina maior este ano e, apesar de o Pop ser my hot hot sex, Jazz, Hip-Hop e R&B me pegaram pelas bolas.
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Menções Honrosas:

- "Like A Drug" de Kylie Minogue: porque aquela caveira gigante será artigo de decoração da minha mansão.

- "Fight For This Love" de Cheryl Cole: pop viciante, mas recheado de carisma. Cantar isso enquanto se dirige é ótimo.

- "The Distance Between Us" de Sophie Ellis-Bextor: basicamente por este motivo.

- "Love Long Distance" de Gossip: dolorida, yes! destruída, JAMAIS! O feeling de pista mil-novecentos-e-noventista que esta faixa tem é sensacional.

- "Itapoã" de Caetano Veloso: primeiras lágrimas compartilhadas num romance real.

- "Concrete Jungle" de Bob Marley: prova do "nunca diga nunca". Nunca gostei de Reggae, nunca gostei de Bob Marley e de repente em algum momento do ano era tudo o que eu escutava e dançava.

- "Try Sleeping With A Broken Heart" de Alicia Keys: uma das maiores estrelas da minha constelação, Alicia Keys raramente me decepciona. Esta balada é linda como qualquer uma de Keys, apesar do clipe meio bocó e de péssimos efeitos especiais.
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The Bubbling-Under:

20. "But Not For Me" de Chet Baker/"Chasing Pirates" de Norah Jones

Norah Jones geralmente nunca me surpreende de forma negativa, mas ao ouvir seu quarto álbum, The Fall [Blue Note, 2009], eu senti falta de seu adorável piano. Mas em pouquíssimo tempo Chasing Pirates e suas sucessoras me cativaram com suas guitarras de aurea rock-edgy.

Minha amiga Tam Chéquer me recomendou Chet Baker numa fase em que ansiava por mais daquele all that Jazz. Sua voz de timbre suave logo me ganhou pelo romantismo que é capaz de imprimir em suas faixas. Baker remete à máxima: jazz-café/vinho-casal.

19. "Cangote" de Céu

Em seu segundo álbum Vagarosa [Universal Brasil, 2009], a deliciosa Céu se restringiu ao Reggae e ao Dub. Com arranjos vocais pra lá de apaixonantes, Cangote é uma das mais bonitas canções de amor do ano, perfeita para momentos transcendentais.

18. "Lilac Wine" de Jeff Buckley

Fevereiro para Lucas é igual a inferno astral. Então não é surpreendente que a melancolia etérea de Jeff Buckley, não só nesta música mas como em toda a sua [infelizmente] curta discografia, me cativou neste mês.

17. "Obsessed" de Mariah Carey

O que mais adoro em Mariah Carey é que ela se acha. Convenhamos: ela é brega, chata pra caralho e irritante com suas vocalizes mais estridentes que solos de guitarra dos anos 1960; mas o fato de ela se achar a última bolacha do pacote é uma comédia! Obsessed é daquelas faixas de Mariah que não acrescentam sua vida em nada, a não ser a oportunidade de dar umas risadas com um refrão grudento. Nisso Mariah é mestre!


16. "Courage" de The Whitest Boy Alive

Geralmente resistente a esses Indiesmos atuais, o projeto paralelo de um dos caras do Kings Of Convenience, Erlend Øye, me tomou de surpresa. Dançante mas suavemente harmonizado, o álbum Rules [Bubbles, 2009] tocou em repeat no iPod por quase um mês inteiro. Canções calmas, mas cheias de groove, como Courage, não saíram da minha cabeça por um período de limbo emocional, quando o máximo que podia fazer era esperar o start alheio. Apesar de a vida ter me posto em caminhos melhores, eu ainda guardo um carinho especial por esta canção e o que ela representou por um tempo.

15. "Gimme Some" de Nina Simone

Nina Simone sempre me lembra o adorável filme Antes do Pôr-do-Sol e este ano, finalmente, me permiti deliciar com a persona incrível e hipnotizante que foi essa mulher. Procure e assista no YouTube e te desafio manter-se impassível a seu carisma e beleza singular. Esta canção, em específico, está aqui pela safadeza que é a letra.

14. "Didn't Cha Know" de Erykah Badu

Um dia eu estava assistindo MTV na casa de uma amiga e meu estado de consciência estava um tanto alterado [YES aham!], eis que de repente uma louca me surge com um clipe lindo e psicodélico: Erykah Badu com Honey. A partir daí virei fã e fui atrás de toda a discografia de Badu.

Didn't Cha Know é daquelas clássicas faixas que lidam com as adversidades que a vida impõe, especialmente quando são as próprias escolhas que nos fazem deparar com certos dilemas. Este tipo de poética sempre me é agradável, mas no caso de Badu foram as camadas de vocais e a orgânica produção ao redor da batida R&B que me conquistaram, não só nesta faixa como em todo o álbum Mama's Gun [Motown/Puppy Love, 2000].

E no final há apenas a clássica mensagem de que:

"Love is life, and life is free/Take a ride on life with me/Free your mind and find your way/ There will be a brighter day"

13. "Everyone Nose" de N.E.R.D

Irreverente, mas, acima de tudo, DIVERTIDA! Em Everyone Nose, Pharrell Williams e Chad Hugo tiram sarro das carreiristas de plantão em Hollywood. Como carreirista entende-se as garotinhas lindas que fazem filas nos banheiros dos clubs para usar mais que pias de mármore que os espelhos, para se recauchutarem. O melhor de tudo é: excitante, neurótica e acelerada como uma onda de cocaína.


12. "Anthonio" de Annie

Era uma vez, uma garota chamada Annie que caiu na lábia de um amante brasileiríssimo e alguns anos depois achou divertido falar sobre o assunto. O resultado foi uma faixa ElectroPop de atmosfera épica que atestou mais uma vez o quão genial Annie é em seu estilo.

É uma pena que ao finalmente lançar o maravilhoso Don't Stop, ela tirou algumas das melhores faixas da versão que nunca viu a luz do dia, como I Know UR Girlfriend Hates Me e I Can't Let Go; e, inclusive, a jóia rara que é Anthonio.

11. "Rock With You" de Michael Jackson/"Celebration [Benny Benassi Remix Edit]" de Madonna

Madonna esteve presente por todo o meu ano, simplesmente porque D-us sempre é presente. No meio do segundo semestre sua nova coletânea foi lançada e Celebration logo se tornou um hino dentre os amigos, especialmente o remix do Benassi, muito mais vibrante que a produção original do Paul Oakenfold.

No mês em que Michael Jackson morreu, parte do mundo parou em choque, e outra parte, mesmo chocada, se jogou na pista de dança, onde ele ainda era rei absoluto. Obviamente faço parte do segundo grupo. Se na mídia ele era tratado como uma persona non-grata, indubitavelmente nas pistas o mundo AMA Michael Jackson. Rock With You embalou alguns dos momentos mais sublimes deste ano: auroras conquistenses intensamente românticas que casavam perfeitamente com as implícitas luzes de pista desta canção clássica.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

I WANT YOUR BAD ROMANCE!!

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

@lindsaylohan LADY GAGA IS F*)K!NG EP!C !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!



Lindsay Lohan escreveu em seu twitter [ @lindsaylohan ] recentemente:

"@ladygaga OBSESSED WITH YOUR NEW VIDEO! you've just become epic in my book **"

Só agora compreendi muito bem o que ela quis dizer, talvez até o que ela tenha sentido de tão épico no video de Bad Romance. Nas minhas notas sobre o video mencionei a semelhança com o filme Entrevista Com O Vampiro [1994], baseado no romance homônimo de Anne Rice.

Porém hoje tive uma abstração bem diferente e consegui finalmente captar a linha litero-cinemática de "Bad Romance"; Lady GaGa realmente tem retornado aos primórdios das grandes produções em vídeo-clipe - grandes produções, não apenas produções grande$. Assim como em Paparazzi ela conta uma história coerente e coesa apenas com imagens, reunificando a técnica impecável à substância que transcende a leitura superficial.

O que sempre foi mais complicado num clipe é justamente a história a se contar. Não há diálogos em letras de música, nem elas podem se dar ao luxo de uma narração prosáica.

A partir dos anos 80, com o advento da MTV, o video-clipe passou a se desenvolver como uma uma ferramenta artística da Cultura Pop. A música invadia a TV como protagonista e necessitava de um tanto mais de profundidade em seu dicurso imagético. Pode-se dizer que realmente "o vídeo [clipe] matou a estrela de rádio" porque agora a música se tornava [também] um áudiovisual. As grandes lendas dessa época são obviamente, Madonna e Michael Jackson. Com o tempo a indústria passou a se importar preocupar menos e a cultura caiu na preguiça dos vídeos de showroom de popstars, a maioria sem um pingo de inspiração, pois suas estrelas nunca tinham muito mais a dizer do que seus diretores e managers.

Eis que do underground novaiorquino surge Lady GaGa que em pouquíssimo tempo chegou ao topo das grandes produções da indústria [yes, to falando de vendagens]. Tem gente que diz que ela DEU MUITO duro; eu digo "e daí?" Agora que ela está no pico de seu momentum publicitário, Lady GaGa mostra ambiciosamente sua profundidade artística.

Lindsay Lohan provavelmente sacou as proporções épicas de "Bad Romance" por ser uma ótima atriz, apesar da loucura de sua vida de celebridade. Eu provavelmente percebi o que La Lohan quis dizer, por gostar de ver além do culto à celebridade.

"Bad Romance" tem um prólogo, que é superior ao de "Paparazzi" [em padrões de vídeo-musical], por ele não ter pouco mais que 12 segundos; princípio, meio e fim concretos, e muito bem executados pela magistral direção de Francis Lawrence, capaz de unir a intricada visão de GaGa com toda a técnica que as grande$ produções podem comprar.

Prólogo

Como uma gueixa über-futurista GaGa dá a volta por cima da perda forçada da inocência pela prostituição, utilizando-a a seu favor - mostrando que é possível ralar a bunda [trocadilho intencional] para se chegar ao topo e manter a dignidade que transcende a moralidade.


Inocência

A personagem de GaGa aceita sua posição e nela decide apostar tudo. Ela exige o amor e atenção de todos sem máscaras, apesar da maquiagem extravagante. O festival de figurinos bizarros não são meros patrocínios ou favores de grifes como Dolce & Gabbana e Alexander McQueen; aliás, essas grifes não precisam desse tipo de promoção - seus mentores criativos se inserem no setor como oportunidade de imortalizarem sua arte na cultura. [Quem nessa vida pós-1980 não tem uma imagem mental do sutiã de cone de Jean Paul Gaultier?].

Contudo, GaGa subverte a dicotomia "amor" é "ódio", acrescentando a ambos a vingança: ao assumir sua condição e utilizá-la a seu favor, a gueixa vampírica revela sua monstruosidade, que você jamais poderá condenar pois ela deixa clara sua participação nisso. E ao mesmo tempo, você não se sente culpado em querer mais.


Rendição


Reviravolta



Monstro [I'm a free bitch baby!]



Estratégia



Vigança

Na conclusão do post anterior, disse que não havia uma peça de exagero contida nesse vídeo que fosse desnecessária; fato que se conecta com as proporções épicas evidenciadas por Lindsay Lohan. Quer saber porque tudo isso faz sentido?

Pergunte aos grandes épicos como, ...E O Vento Levou e Titanic, se é possível existir sem vestidos de cortina e colares de diamantes raros. Pergunte a épicos, como Austrália, se é possível contar uma história sem afetação e saltos barrocos. Pergunte a "Entrevista Com O Vampiro" se Kirsten Dunst poderia ser tão genial sem tanto DRAMA!

terça-feira, 10 de novembro de 2009

GaGa Criando Perfeitos Bad Romances


Ontem à noite, eu e dois amigos discutíamos Lady GaGa, especialmente sua atual posição como única manipuladora de imagem da cena Pop atual. Mas acredito que ninguém estava preparado que ela, já no vídeo seguinte, superasse a genialidade de Paparazzi. Mas voilá, Bad Romance estreou. [O link direto do YouTube ainda não existe, mas ali tem o link pro site oficial.]

Pode-se dizer que "Bad Romance" é uma faixa Dance-Pop fácil, com letras beirando a mongolisse [Rah-rah-ah-ah-ah!/Rom-mah-rom-mum-mah!/GaGa-oo-la-la!/Want your bad romance], mas ela possui os elementos necessários para se tornar clássico de pistas e rádios: Rah-rah-ah-ah-ah!/Rom-mah-rom-mum-mah!/GaGa-oo-la-la!/Want your bad romance [e a facilidade de ter isso preso no seu cérebro por horas].

Porém, eu como entusiasta de GaGa desde seu estouro com Just Dance, vejo muito mais. Sei lá se em seu processo criativo, enquanto escreve e produz uma canção, ela já fica pensando no tipo de vídeo que fará e qual será todo o conceito imagético por trás daquela faixa. Mas todo o seu design mental é explicitado nesse vídeo.

Primeiro, a música podia ser de qualquer pop-bitch atual - o que faz ela essencialmente Lady GaGa é a própria GaGa. Rah-rah-ah-ah-ahs definitivamente não soariam bem sob os vocais sintetizados de Britney ou o timbre de diva de Beyoncé. Lady GaGa não apenas escreveu essas coisas nonsense como ela imprimiu em cada verso da canção a monstruosidade artística que escolheu e pesquisou para o The Fame Monster.

Depois vem esse vídeo. "Bad Romance" é trending topic no twitter desde hoje de manhã e, dentre os comentários, alguma idiota escreveu que o vídeo era muito branco e que GaGa precisava de uma cor. Mas nesse mundo em que a coisa mais pop do momento é a saga Crespúsculo, GaGa remete-se em seu clipe ao mundo vampírico e pálido dos [verdadeiros] dramas de terror, como o clássico de 1994 Entrevista Com O Vampiro.

A fotografia plastificada mantém a estética obcecada pela perfeição da Fama associada a todas as bizarrices inerentes a GaGa: os vocais graves, os olhos maximizados quase desumanos e, claro, a direção de arte de seu time criativo Haus Of Gaga e o figurino ultrajante de Alexander McQueen.

Apesar de famosa por sua extravagância e exagero, não há nenhum exagero nesse vídeo que pareça fora de lugar ou que não fora pensado e magistralmente arquitetado. Com "Bad Romance" Lady GaGa, em menos de dois álbuns, mostra que não tem mais o que provar para se firmar como ícone da Pop Art. Se ela vai ter mais de 20 anos de carreira, ninguém sabe; mas por enquanto ela não tem nada que a impeça.

[Musique: Bad Romance - Lady GaGa]

Burial - Miike Snow



[00:26:24] Lucas: http://www.youtube.com/watch?v=lOXnSdXV-0I isso amor: veja as nuances, os detalhes escondidos em cada rádio em cada pilha. todos os olhares todos simbolos todos os amores... (h)

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Isso é Importantíssimo!!

Acredito que até então todos os brasileiros têm acompanhado o caso de Geisy Arruda, estudante da universidade de facistas paulista, Uniban. Agora a Delegacia da Mulher vai entrar mais incisivamente na ação após a expulsão de Geisy da dita "universidade" e a União Nacional dos Estudantes juntamente com grupos de proteção às mulheres prometem manifestações na porta da Uniban.

Deixando de lado a dramatização "manoel-carlística" usual do brasileiro, é de grande importância que isso esteja acontecendo. Deve-se agora enxergar além do maniqueísmo ofensor/vítima e perceber um passo importante em direção a mudanças de paradigmas da sociedade brasileira.

Hoje mais cedo, uma amiga mandou-me via orkut o link de uma entrevista com o escritor João Silvério Trevisan, sobre a nova edição de seu livro Devassos no Paraíso. Em um trecho do livro, destacado pela IstoÉ, Trevisan menciona a famigerada confusão entre tolerância e hipocrisia feita pelos brasileiros. Isso me remeteu a um capítulo do livro Carnavais, Malandros e Heróis, de Roberto Da Matta, que li recentemente para a faculdade, sobre como o brasileiro esconde sua faceta mais preconceituosa atrás do "orgulho da mestiçagem" e, portanto, tolerante.

O texto desconstrói tal imagem através do culto brasileiro do "Você sabe com quem está falando?", sentença recorrente nas falas de praticamente todas as camadas sociais brasileiras que, juntamente com seu preconceito, é hipocritamente mascarada com o sorriso amarelo da [falsa] tolerância.

Da Matta, no capítulo supracitado, ainda cita comparações feitas pelo autor brasileiro Érico Veríssimo, em seu livro A Volta do Gato Preto, entre as sociedades brasileira e norte-americana; de forma análoga pode-se resumir as comparações com a honestidade americana quanto aos seus preconceitos, coisa que aqui fica perdida na hipocrisia do "povo alegre e tolerante." [Não louvo o preconceito americano, porém reprovo vigorosamente a hipocrisia brasileira.]

A história de Geisy versus o facismo endorsado e repercutido pela Uniban e seus clientes alunos é a prova do quão involuída a nossa sociedade ainda é. Protestos e investigações jurídicas contra a Uniban são mais que bem-vindos, especialmente num país que insiste em manter os paradigmas patriarcais e machistas de sua história.

Se eu morasse na grande São Paulo, eu certamente tentaria me deslocar com esses grupos para qualquer protesto contra esta pseudo-universidade, para que, principalmente, ela possa ser lembrada que uma Universidade, em sua essência, é espaço de discussões e aberturas ideológicas, não o reforço de paradigmas preconceituosos disfarçados de "princípios de dignidade e moral".

[Musique: Live To Tell - Madonna]

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Colour Me Free!

[English version bellow]

"Acorde um dia, sinta a energia e seja emocional, inspirado e orgânico." Em linguagem twitterística [em até 140 caracteres] é assim que consigo descrever o mais novo álbum de Joss Stone.

Um dia, na casa de shows de sua mãe em Devon [Inglaterra], Joss convenceu seus amigos músicos e produtores a seguir um impulso intuitivo para, além de comporem, gravarem o que se tornaria seu quarto álbum, Colour Me Free!. Há sempre um risco nesse modus operandi, se você não tem a competência para transferir a inspiração para a realidade tudo pode sair uma grande bagunça.

Em "Colour" Joss volta a trabalhar com diversos produtores, mas a diferença essencial entre ele e seus antecessores é justamente a presença mais evidente de Stone. Enquanto em The Soul Sessions [2003] e Mind Body & Soul [2004] ela se revelava na voz e, em Introducing... Joss Stone [2007], se estabilizava com sua persona e versatilidade [mais genérica], tudo isso está presente em "Colour" de forma mais madura e consciente.

[Sempre] Essencialmente Soul, mas às vezes flertando com o Blues como na deliciosa Parallel Lines, Stone impõe os vocais impressionantes ouvidos nos dois primeiros álbuns associados com a produção magistral, sentida no seu mega-hit "Introducing...". A quarta faixa, Lady, pode sintetizar essa idéia: tão instrumentalmente profunda quanto sua rendição de Victim Of A Foolish Heart [The Soul Sessions], a voz de Joss, porém, possui a força e ousadia que só vimos nos delírios de Diva de canções como Girl They Won't Believe It [Introducing...]. Em 4 and 20 a mulher mistura a suavidade musical do Jazz com as vocálizes recitadas do Soul, fazendo uma das mais românticas canções de sua carreira.

Em termos de gênero, "Colour Me Free" pode aparentemente não contribuir muito, já que Joss volta a incorporar sua persona "intérprete"; mas em termos de carreira e sua imposição como artista real e independente, este álbum fez para Joss o que nenhum de seus parentes conseguiu: unir a artista presente e criativa à maravilhosa Diva que Joss Stone nos apresentou ao longo destes 6 anos.

Este é um álbum de fãs e admiradores: há um sentimento que diz que ele não será comercialmente bombástico como Joss pode ser - baseado no que vimos até então; mas certamente ele será lembrado pelos amantes da música.
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"Wake up, feel the energy and be emotional, inspired and organic." In twitter language [140 characters or less] this is how I can describe Joss Stone's latest album.

One day at her mother's music venue in Devon [England] Joss convinced her friends to follow an intuitive impulse to, besides writing, record what would become her fourth album, Colour Me Free! [2009]. There's always a risk at this modus operandi: if you don't have the competence to transform inspiration into reality everything can turn out as a big mess.

In"Colour" Joss returns to work with multiple produces, but the main difference between it and its predecessors is precisely Stone's more evident presence. While in The Soul Sessions [2003] and Mind Body & Soul [2004] she revealed herself with the voice and in Introducing... Joss Stone [2007] she stabilized her [more generic] persona and versatility, all of this is present in "Colour", but on more mature and solid mode.

[Always] Essentially Soul, but sometimes flirting with Blues like in the delightful Parallel Lines, Stone imposes her impressive vocals heard throughout her first two albums combined with the great prodution felt on her mega-hit "Introducing...". The fourth track, Lady, can synthesize this thought: instrumentally as profound as her rendition of Victim Of A Foolish Heart [The Soul Sessions], Joss's voice has however the power and boldness we only saw on her Diva ravings in songs like Girl They Won't Believe It [Introducing...]. In 4 and 20 the woman mixes the Jazz smoothness with Soul spoken vocals, producing one of the most romantic songs from her career.

In terms of genre, "Colour Me Free" might apparently not add much considering that Joss reincorporate her singer side; but as for her career and imposition as a real independent artist, this album does what none of its relatives was able: unite the present and creative artist to the wonderful Diva Joss Stone showed us along these 6 years.

This album is for fans and admirers: there's a feeling it won't be as commercially bombastic as Joss can be - based on what we saw so far; but certainly it will be remembered by music lovers out there.
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O que já foi dito [em tradução livre]:

"Em 'Colour Me Free,' [...] a descoberta britânica está em sua melhor persona blues e soul. O histórico é que Stone andava infeliz com sua gravadora e queria quebrar seu contrato. Porém, cada ressentimento é transformado em canções universais sobre a influência e bagagem do amor." - New York Post

"Sua voz parece causar menos dano, a música (pelo menos até o final do álbum) é forte e suas escolhas em colaborações (Nas, Shiela E, Jeff Beck) são impecáveis. Resumindo, CMF [sic] é melhor do que se espera. Interessante notar, também, que o título do álbum mantém a escrita britânica nos dois lados do Atlântico." - The Independent

"Poucos músicos tiveram uma carreira mais acelerada que Stone [22], a última esperança branca do soul agora vista como vendida, por cortesia de malígnas transformações e competição pós-Winehouse. Este é um decente retorno, que contudo, evita seu aprendizado hip-hop do último álbum, [escolhendo por um direcionamento] mais direto ao soul-funk retrô. Entre referências a Stevie Wonder, Al Green e Dionne Warwick, o que mais impressiona é a voz, que adquiriu ressonância emocional suficiente para se igualar à sua força. Há momentos tediosos [...] mas o suficiente para sugerir que esta diva wannabe é real." - The Guardian/The Observer

[Musique: 4 and 20 - Joss Stone]